Os Sambaquis e o período pré histórico brasileiro

Os Sambaquis, também conhecidos como concheiros, são formações primitivas constituídas principalmente por conchas e restos de materiais utilizados e produzidos por povos pré-tupis que viviam nas regiões costeiras do litoral brasileiro.

Essas formações parecem pequenas montanhas que podiam chegar até 30 metros de altura e de 40 a 400 metros de extensão. Os povos pré- cabralinos, conhecidos como sambaquieiros, ocuparam e viveram na faixa litorânea que se estende da Bahia até o Rio Grande do Sul no período que corresponde de 8.000 anos a 2.000 anos atrás.

Ocupando uma faixa que corresponde quase a metade do litoral brasileiro, os povos sambaquieiros permaneceram nessas regiões ao longo de 6.000 anos vivendo como caçadores coletores, porém, a principal fonte de alimentos eram ostras, mariscos, peixes, caranguejos e de alguns mamíferos marinhos e terrestres que habitavam essas regiões das costas brasileiras.

Os Sambaquieiros eram populações pré-históricas que viveram no período pré-cabralino que corresponde de 8.000 a 2.000 anos atrás. Esses povos eram pescadores caçadores coletores e utilizavam os sambaquis para uso funerário e cerimonial principalmente, mas também para demarcar território utilizando as estruturas também como mirantes, conforme as necessidades de cada povo sambaquieiro ao longo da costa brasileira. Esses cemitérios pré-históricos tinham valas coletivas e individuais que geralmente eram forradas de argila, palha e madeira.

Outra característica comum dessas covas era o uso de corantes de pigmentos vermelhos nos corpos, que podiam ser enterrados em posição fetal ou estendidos. Muitos objetos provavelmente foram enterrados com seus donos, típicos do período neolítico, como facas lascadas, pontas de lança de pedras lascadas, assim como batedores de ossos, que eram utilizados como martelo ou arma e raspadores de conchas, além de potes de cerâmica de diversos tamanhos, carvão e marcas de fogueiras.

Em alguns sítios arqueológicos de sambaquis em Santa Catarina foram encontradas pequenas estatuetas de pedra polida representando de modo estilizado figuras de animais conhecidos como zoólitos, os quais representavam geralmente peixes, pássaros e baleias.

Em Santa Catarina encontram se os maiores sambaquis ainda preservados, em Laguna e em Jaguaruna, região que abriga pelo menos 42 sambaquis e onde se encontra o maior sambaqui de todos, o sambaqui Garopaba do Sul, o maior depósito de conchas do planeta, com mais de 3.700 anos. Vale destacar que muitos dos grandes sambaquis existentes no Brasil foram destruídos desde o período colonial até o século passado.

Os sambaquis foram utilizados para a produção de cal para a construção de edifícios, engenhos, palacios e outras construções.

Os Sambaquis e os povos pré-históricos que habitavam a costa brasileira e desenvolveram essa cultura sempre foram objetos de estudos históricos, antropológicos e arqueológicos. Com o desenvolvimento da genética como aliada nesses campos, surgem estudos cada vez mais complexos e detalhados sobre o surgimento, o desenvolvimento e a extinção ou sumiço de evidências dos povos sambaquieiros.

Estudos recentes apontam que povos de genéticas diferentes se apropriaram da cultura sambaquieira de certa forma, em análises de sambaquis ou resquícios destes que foram datados em até 10.000 anos de existência, assim como a datação em carbono permite analisar as relações entre tempo, desenvolvimento e práticas desses povos que mantiveram a cultura sambaquieira por tanto tempo.

É possível perceber o surgimento de fragmentos de cerâmica nos sambaquis mais recentes, datados em 2.000 anos em média, que povos proto Jê se deslocaram do interior do Rio Grande do Sul para áreas litorâneas nesse período, e de alguma forma também se apropriaram da cultura sambaquieira e tinham alguma relação de troca com os sambaquieiros.

Muitos desses povos se diluíram e foram absorvidos por outras culturas indígenas, porém, sabe se que no período de 2.000 anos atrás até o período pós cabralino que os Tupis desceram da bacia amazônica e ocuparam toda faixa litorânea, o que provavelmente significou o fim dos povos e da cultura sambaquieira.